24/01/2008

engraçado, sempre chove...

na cidade seca
ele pede às nuvens chuva
essa mesma que nunca chega
pede uma chuva inteira
como no primeiro dia em que ela foi sua

saudades dele
ela sente o tempo todo
feito dor de picada de serpente
dor só dela feita de sempre
saudade que sente até nos dias de encontro

ele vai e caminha
pela cidade seca rasgando
qualquer distância que os divida
vira pedaço passado de vida
encontro que chega e coração galopante

e a chuva apressada
com seu conhecido não faz desfeita
cai percussão ritmada
chegando inteira na hora marcada
e ela, sorrindo das gotas, daquele outro dia se lembra

17/01/2008

Lua cheia 2

como antes

foto por gregor_ysinto fome de almoçar
todos sentados ao redor da mesa
numa grande reunião feliz
como antes

ouço alguém me chamar
[risos e cheiro de comida caseira]:
"venha comer e rir
como antes!"

um belo prato a me tentar
pedem "para mim primeiro"
mas não consigo permitir...
como antes!

16/01/2008

Isabel

10/01/2008

Caderno de anjo

A garota que cuida do provador da loja espia um conhecido de seu irmão experimentar roupas e decide sorrir para ele na saída. Uma criança surda vê um homem disparar uma arma na noite. Folhas caem de uma árvore num parque distante, anunciando o frio. Uma senhora fecha seu punho e observa as veias que correm nas costas de sua mão. Elas pulsam normalmente, depois um pouco mais rápido. A namorada do garçom percebe que ama o faxineiro do bar e sente-se confusa pela primeira vez em muito tempo. Nenhuma formiga pica o homem triste deitado no gramado. Um garoto em um semáforo limpa um pára-brisa apenas porque sim. O motorista do carro sente-se culpado pelo vidro fechado e deixa o troco de seu almoço na caixinha dos funcionários do restaurante. Um caderno novo é inaugurado por um jovem que quer ser escritor. Enfim, uma orquídea abre uma nova flor vinte anos depois de ter sido dada de presente por um bebê de um ano de idade para sua mãe (iniciativa do pai).

07/01/2008

Laranja de sol indeciso [...]

Laranja de sol indeciso
Ilumina sua mão
Hesitante que toca o frio
Dos dedos de minha mão
Aquecendo o que não cabe no frio
Pouco dessa semi-noite de verão
Vermelho de enrubescido
Seu rosto meus olhos verão
Lembrando de tempos perdidos
Como laranja e vermelho também serão
Azul chegará a noite terrível
Seu cheiro negro de solidão
Me lembrará um momento perdido
Com uma estrela de fim de verão

05/01/2008

Gerações

Ombros pesados demais,
Estalos nas juntas...
Como qualquer rapaz,
Não sinto dor nunca
E carrego nas costas
A geração futura.
E terei amanhã as sobras
De uma feira gigante
A nós imposta.
Farei como os de antes
Que de constestadores
Viraram feirantes?
Faço minhas as dores
Antes já sofridas
E acendo as brasas de hoje
Com as mesmas faíscas.
Não é por tradição;
É por condição de vida:
Se não há terra ou pão,
Não há geração futura.
Ordem vira desordem por padrão.
É a natureza que muda,
Senão morre no Nada-Nunca.

Siga em frente [...]

Siga em frente
e tenha em mente,
se possível sempre,
que ninguém vence
realmente
nessa vida
até estar
tudo acabado,
o fim chegado,
outros derrotados
e você cansado,
mas não vencido.

Cabe saber escolher
quando é conveniente vencer
e fazer outro perder,
como deve sempre ser
pois a vitória é exclusiva,
e quando vale a pena
deixar ser apenas,
esquecer a contenda,
dizer a si mesmo "chega"
e seguir com a vida.