04/05/2007

Pedaços

Você tem cara de poema,
daqueles bonitos mesmo,
que a gente encontra no livro
quando a madrugada vai tarde
e sentimos saudade do que não foi
e nem podia ser, talvez.

Sabe cheiro de terra molhada
quando a chuva vem só depois
de ser pedida mas esquecida,
de tanto que demora em fazer chover?

Se eu pudesse,
eu queria uma overdose de você
sem te consumir.

Você tem olhos de gota d'água,
brilhantes e transparentes,
fazendo perguntas de esfinge.

Gosto disso.

Se soubesse tocar bandoneón,
prometo que fazia para você
um tango bem-humorado,
sorridente e trágico,
descarregando raivas e riso,
pra gente dançar no cotidiano.

Aonde quer que esteja,
invente essa ciranda que é você
e avise se encontrar um poema
com cheiro de chuva amiga
que responda algum dos enigmas
desse seu olhar grande de mata
e de seu sorriso de paz tensa
mas sempre densa, sincera,
com um toque de dúvida.

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