24/11/2007

Rima LIII

Volverán las oscuras golondrinas
en tu balcón sus nidos a colgar,
y otra vez con el ala a sus cristales
jugando llamarán.

Pero aquellas que el vuelo refrenaban
tu hermosura y mi dicha a contemplar,
aquellas que aprendieron nuestros nombres...
¡esas... no volverán!.

Volverán las tupidas madreselvas
de tu jardín las tapias a escalar,
y otra vez a la tarde aún más hermosas
sus flores se abrirán.

Pero aquellas, cuajadas de rocío
cuyas gotas mirábamos temblar
y caer como lágrimas del día...
¡esas... no volverán!

Volverán del amor en tus oídos
las palabras ardientes a sonar;
tu corazón de su profundo sueño
tal vez despertará.

Pero mudo y absorto y de rodillas
como se adora a Dios ante su altar,
como yo te he querido...; desengáñate,
¡así... no te querrán!

* * *

Voltarão as escuras andorinhas
seus ninhos na varanda a pendurar,
e outra vez com as asas em seus vidros
brincando vão chamar.

Mas aquelas que o vôo suspendiam,
tua beleza e meu júbilo a fitar,
aquelas que aprenderam nossos nomes...
essas... não vão voltar!

Voltarão as espessas madressilvas
de teu jardim as cercas a escalar,
e novamente à tarde, ainda mais belas,
suas flores vão lançar.

Mas aquelas molhadas pelo orvalho,
cujas gotas olhávamos brilhar
e cair como lágrimas do dia...
essas... não vão voltar!

Voltarão, sim, do amor em teus ouvidos
as palavras ardentes a soar;
teu coração, de seu profundo sono,
talvez despertará.

Mas mudo e extasiado e de joelhos,
como se adora a Deus frente ao altar,
como te amei um dia... ; desengana-te:
assim... não vão te amar!

Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870)


Descobri esse poema na edição 8 da Revista Palavra, dos caras da Le Monde Diplomatique Brasil. Vale a pena checar o que eles estão publicando.

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