30/11/2010

Canção esperançosa

O mundo queima na palma das minhas mãos
e o calor desenha retratos de saudade.
A neve que me cerca serve de mais lenha
mesmo ela cobrindo o chão que guarda a verdade.

A terra nunca mente, isso eu aprendi
olhando dos ônibus, na chuva e na seca.
Compreendi brincando na rua, descalço,
que o chão verdadeiro não deve ter fronteiras.

Ventos frios me trazem sussurros da manhã,
essa mesma que é, por si só, inevitável,
mas difícil de fazer acontecer, claro:
Uma dor, nossa, que significa trabalho.

A luz que fazemos nascer no horizonte,
a fazer sorrir a carne do nosso mundo.
Pois cada coisa que criamos e dizemos
canta sempre a canção de cada um de seus frutos.

21/11/2010

É certeza que foi o diabo (...)

É certeza que foi o diabo
quem fez o vestido dela:
foi cortando o tecido com fogo
e costurando as flanelas
enquanto o mundo nascia.

As franjas dela, foi ele que fez,
antes de criar o Mal,
mas talvez planejando a Saudade.
Criativo e original,
o diabo a fez pra ser minha.

E pintou sua boca e seus olhos
em segredo, dando risada.
Ninguém faria tanta beleza,
pois esta era reservada,
limitada a Quem podia.

Mas ele fez ela mesmo assim,
num desafio divino.
Depois, ficou arrogante e mau,
e deixaram-na escondida
por eras, anos e dias...

Até que, por fim, eu a encontrei
e ela foi minha e eu dela.
O diabo, lá nos fundos, sorriu
de uma forma singela:
a boa-ação de sua vida!