16/04/2007

Slow-motion

Sempre começa devagar o processo. Um sorriso percorre minha mente assim que ouço o primeiro clique do gatilho, um pequeno deslizar metálico cria um suave som de talheres de prata raspando. Assim que o sorriso acaba seu percurso, lembro de prestar atenção novamente nos sons da arma que engulo. Com um soco, a bala recebe a pancada. Toda força gera uma reação igual e contrária. Pólvora é um bicho sensível: não gosta de apanhar. O jeito é gritar e fugir. O cano com suas ranhuras faz a bala girar, rodopiar como uma dançarina, enquanto corre, voa. Meus olhos se abrem quando sinto o primeiro contato. A bala está quente e queima o furo que ela mesma abre, rasga. Cada milímetro dói mais, até que tudo fica frio, quase refrescante. A bala parece até que deixou um rastro de ar fresco, mas o cheiro do disparo nega essa sensação. Não tive tempo de sentir sangue escorrer, acho. Com o que me engasgo então? Escuridão. Não tive tempo, acho. Acho que não.

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