14/05/2007

Kikí

Vestido com um casaco vermelho de corte agressivo e sensual, ele entrou em seu quarto. Sentado na cama, tirou seus grandes brincos de argola, com alguma calma, mas apenas a necessária. Virado em sua cama, ele começou a falar sozinho, um pouco alto. Assim que saía de sua boca, cada palavra, uma a uma, perdia qualquer significado. Suas mãos tremiam, algum suor começou a escorrer de seu rosto e sentiu falta de ar. Percebeu, iluminado pela luz fraca do neon do hotel vizinho, que seu relógio estava quebrado. Quase foi engraçada para ele a idéia de que fossem para sempre quatro horas, mas não conseguiu rir, pois ainda falava. Calou-se e lembrou de tirar os apertados sapatos de salto fino. Deitado do jeito que estava, não conseguia desatar o tosco nó que o prendia aos sapatos. Sentiu medo de estar perdendo o controle. Tudo dependia dele ficar livre daquilo, mas claro que isso é um exagero. Ele conseguiu soltar o fio, tossiu duas vezes e depois dormiu. Só foi acordar com o Sol batendo forte nos seus pés. Ainda eram quatro horas quando acordou e sentiu que, mesmo que ainda fossem quatro horas, tanto fazia.

2 comentários:

regiane ishii disse...

"Sentiu medo de estar perdendo o controle. Tudo dependia dele ficar livre daquilo, mas claro que isso é um exagero."

gostei muito. mesmo, mesmo.

Deborah disse...

bom texto. travestis sempre são interessantes. (entendi direito??)

obrigada por ter passado no meu blog! volte sempre!

beijo!