02/05/2007

Mãe e filha [...]

Mãe e filha discutem
Pelos remédios do filho
Água!
Uma chegou de longe
E a outra nem um sorriso
Preciso de água!
A mãe finge que é preguiça
A filha quer salvar o irmão
No mar tem água...
Tem alguém aí?

A mãe sabe que ela não entende
Sua verdadeira solidão
Nada.
Ninguém ouve seus gemidos
Não importam suas vontades
O sol tá forte demais aqui
O filho está indefeso
Exposto a qualquer maldade
Estou suando de novo... Droga!
A filha faz que não escuta
O quê a mãe tem a lhe dizer
Mas entende e mesmo assim diz
"Você só pensa em você!"
Onde estão meus remédios?
A mãe se cala com raiva
E diz que perdeu as receitas
Quero voltar, acabou a graça.
A outra não cai na desculpa
Enquanto a mãe diz que não é perfeita
Estou com sono...
A filha abre gavetas
E encontra um papel bem cuidado
O guarda no bolso e sobe as escadas
Para ver o irmão condenado
Acho que aprendi a voar!
A mãe solene fica na cozinha, olhando a gaveta,
Esperando a filha voltar
Olha pra mim, mãe!
A irmã vê o irmão da porta
Mas não se atreve a entrar

Ela percebe seu delírio
Ela percebe meu delírio

A mãe espera aos pés da escada
A filha desce impassível
Volta aqui!
E agarra suas malas perto da porta
Como se a mãe fosse invisível
Volta...
Ela espera a decisão da filha
Com começos de lágrimas nos olhos
Amanhã eu desço pra jantar
A filha diz que se vai como chegou
Como se não importasse, sóbria
A mãe, no limite, pergunta dos remédios
A filha diz que chegarão mais tarde
Purê e bife.
E não ouve os gritos da mãe no batente
Enquanto desliga o alarme
E entra no carro pensando no irmão
Responde à mãe abrindo o vidro
Já já tô melhor...
A mãe se cala e ouve de olhos vermelhos
A filha gritando que quer o irmão vivo
Enquanto acelera e se afasta
Aí eles vão ver!
A mãe sozinha, sua filha foi embora
Ela olha a janela do quarto do filho
E pensa na filha e nas horas
Cadê meu remédio?
Não agüenta mais e acena dizendo tchau
Antes que seu carro dobre a esquina
Não sabe mais o que faz sentindo
Tá calor... Merda de sede!
Mas só importa o que ainda há de vida
Depois da esquina, a filha pára
E rasga a receita em um delírio solene
Acho que no mar tem água...
Seca os olhos pensando na mãe
E, lembrando do irmão, segue em frente

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