Despedida de sonho
- Quer ajuda com essa caixa?
- Não precisa, ela tá leve. Pega a fita durex ali perto da porta?
- Onde? Ah! Tá, pera um pouco.
Ela continuava empacotando porta-retratos e cadernos de antigas contas conjuntas. Não mudava nada o fato dele estar ali ao lado dela, como sempre esteve. Ela não via o olhar de garoto assustado dele pedindo uma milionésima chance e, mesmo que visse, talvez isso não importasse também.
- Quanto tempo de viagem dá até lá?
- Não muito. Acho que umas três, quatro horas. Por quê?
- Não, nada; perguntei por perguntar mesmo...
- Pronto! Acabei essa daqui, agora só faltam mais três.
Ele já não sentia os dedos de tanto apertar as mãos de nervoso e olhava para as caixas com a certeza de que estava perdido. Ela caminhou diligente em direção ao amontoado de pequenas lembranças do outro lado da sala, com o espírito leve de quem organiza as coisas. Sem perceber, ele acompanhou com dois passos tímidos o deslocamento dela e trombou desajeitado em duas caixas.
- Puta merda! Desculpa, eu nem percebi as caixas aqui. Eu...
- Fica tranqüilo, não tem problema. Você acha que quebrou alguma coisa?
- Não, acho que não. Foi só uma batidinha de leve.
Engoliu em seco enquanto buscava o que dizer a ela, que já prestava atenção no montinho de bugigangas mais próximo. Ela não o condenava; não fazia o menor sentido tentar culpa-lo por erros inexistentes ou naturais, e ele também sabia disso. Não sentia raiva dela; na verdade, quase a entendia. Talvez em outro momento ele tivesse feito isso.
- Ai! Esqueci uma foto na geladeira! Já volto!
Ela passou por ele com passos delicados de bailarina, mais bonita do que nunca. Ele sentiu um aperto daqueles que anunciam o tanto que iremos lembrar de um momento para o resto de nossas vidas. No fundo, ela também sentia, mas isso era normal.
- Helena!
Ela virou o rosto ao ser chamada em um ritmo lento, quase uma câmera lenta de propaganda de xampu. Pronto: estava feita uma fotografia que ele iria guardar dentro de si, embrulhada em uma caixa de papelão barata, presa carinhosamente com fita durex. Amanhã ele iria, como ela, abrir suas caixas também, e isso foi o suficiente para ele.
Os dois se olharam por alguns segundos. Ninguém disse nada e também não era preciso. O que pudesse complicar eles deixaram para depois: não devia ser nenhum fim de mundo. Naquela sala, naquele dia, para acabar essa história, bastou um sincero e silencioso sorriso dos dois.
- Não precisa, ela tá leve. Pega a fita durex ali perto da porta?
- Onde? Ah! Tá, pera um pouco.
Ela continuava empacotando porta-retratos e cadernos de antigas contas conjuntas. Não mudava nada o fato dele estar ali ao lado dela, como sempre esteve. Ela não via o olhar de garoto assustado dele pedindo uma milionésima chance e, mesmo que visse, talvez isso não importasse também.
- Quanto tempo de viagem dá até lá?
- Não muito. Acho que umas três, quatro horas. Por quê?
- Não, nada; perguntei por perguntar mesmo...
- Pronto! Acabei essa daqui, agora só faltam mais três.
Ele já não sentia os dedos de tanto apertar as mãos de nervoso e olhava para as caixas com a certeza de que estava perdido. Ela caminhou diligente em direção ao amontoado de pequenas lembranças do outro lado da sala, com o espírito leve de quem organiza as coisas. Sem perceber, ele acompanhou com dois passos tímidos o deslocamento dela e trombou desajeitado em duas caixas.
- Puta merda! Desculpa, eu nem percebi as caixas aqui. Eu...
- Fica tranqüilo, não tem problema. Você acha que quebrou alguma coisa?
- Não, acho que não. Foi só uma batidinha de leve.
Engoliu em seco enquanto buscava o que dizer a ela, que já prestava atenção no montinho de bugigangas mais próximo. Ela não o condenava; não fazia o menor sentido tentar culpa-lo por erros inexistentes ou naturais, e ele também sabia disso. Não sentia raiva dela; na verdade, quase a entendia. Talvez em outro momento ele tivesse feito isso.
- Ai! Esqueci uma foto na geladeira! Já volto!
Ela passou por ele com passos delicados de bailarina, mais bonita do que nunca. Ele sentiu um aperto daqueles que anunciam o tanto que iremos lembrar de um momento para o resto de nossas vidas. No fundo, ela também sentia, mas isso era normal.
- Helena!
Ela virou o rosto ao ser chamada em um ritmo lento, quase uma câmera lenta de propaganda de xampu. Pronto: estava feita uma fotografia que ele iria guardar dentro de si, embrulhada em uma caixa de papelão barata, presa carinhosamente com fita durex. Amanhã ele iria, como ela, abrir suas caixas também, e isso foi o suficiente para ele.
Os dois se olharam por alguns segundos. Ninguém disse nada e também não era preciso. O que pudesse complicar eles deixaram para depois: não devia ser nenhum fim de mundo. Naquela sala, naquele dia, para acabar essa história, bastou um sincero e silencioso sorriso dos dois.
1 comentários:
grama, passei por aqui por indicacacao da liene =)
to amando seu blog!!!
parabensss!!!!
bjaooooo
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