20/05/2007

3.30 T. Central

Ela usava fones de ouvido
em todo pequeno percurso
e se perdia numa distância inatingível.
Mergulhava no horizonte,
em um silêncio quase meditativo,
com o olhar no próximo ponto
e cantarolando sem fazer ruído.

Eu, sentado em outro banco
ou de pé em truculento equilíbrio,
meio que ouvia suas músicas feito espião,
mas sem mirabolantes objetivos,
e tentava descobrir alguma coisa
naquelas melodias que ouvia baixinho:
qualquer coisa pouca que fosse,
uma dica, uma pista, um caminho,
que servisse para me dar uma mão
e depois eu que me virasse sozinho.

Ontem, ela se sentou ao meu lado:
um olhar e um quase-sorriso.
Era um dia como sempre normal,
mas, de repente, tirou os fones do ouvido
(deve ter acabado a pilha, acontece)
e o silêncio dela perdeu o sentido.
Numa freiada ou curva qualquer,
uma conversa surgiu de fininho
e, quando ela desceu no seu ponto,
um nome, dois olhares e um sorriso.

Às vezes, uma coisa pequena que seja,
vai saber, pode ser um início
de qualquer outra coisa:
hoje, pelo jeito, ela não trouxe seus fones de ouvido.

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