09/09/2007

tabacos

- desista, senhor akira... eles estão longes demais

mais dois tiros ressoaram na escuridão da velha estrada. filhos da puta. yuji virou-se e andou calmamente em direção à viatura, dando o aviso à central. eles seriam pegos cedo ou tarde, os filhos-da-puta. akira guardou sua arma com um suspiro e um olhar atravessado. fechou a porta da viatura fazendo barulho.

- corredores, sempre corredores... estou cansado deles! todos esses jovens! que merda

yuji nao respodeu à fumaça do cigarro na reclamação de akira; achava que aqueles cigarros de tabaco negro dele é que eram uma merda. yuji manobrou a viatura na direção contrária dos fugitivos e acelerou o carro pela estrada escura e deserta. tinha alguma pressa para voltar: emiko o esperava com um sorriso e uma reclamação no jantar de aniversário dos dois. outra discussão a caminho.

- eles serao pegos, senhor akira. está com calor? abra o vidro, o ar desse carro não funciona

- esse vento vai estragar meu cigarro.

o vento uivou pela janela, mais ainda quando algum carro cruzava o caminho na direção contrária. as cinzas do cigarro do detetive akira voavam direto em seu rosto, mas disso ele não reclamava. gostava até. yuji o observou por alguns breves momentos. um ringtone polifonico chamou a atenção de akira. com um apertar de dentes, yuji tirou uma das mãos do volante.

- emiko. sim, eu sei. estou na estrada velha, não vou demorar muito. eu sei que está tudo bem...

- tem rádio nesse carro?

- ... já chego. tchau, emiko.

yuji arrependeu-se de ligar o som da viatura; akira cantava baixo sucessos americanos do passado. emiko detestava cheiro de cigarro, mas yuji já tinha apertado o isqueiro do carro. akira observava pelo canto dos olhos cada movimento do colega mais jovem.

- tudo bem, senhor akira?

- tudo bem você?

yuji olhou fundo os óculos opacos de akira. o som dos carros no sentido contrário aumentou de frequência. uma chamada da central alertava para dois fugitivos na velha estrada. akira coçou o joelho enquanto yuji tragava seu tabaco rúbio. um semáforo aproximou-se junto com a cidade.

- é minha última chamada hoje, senhor

- e você quer saber onde me deixar?

- é o procedimento.

akira engasgou um riso olhando para o jovem colega. esse filho-da-puta também deve ser um bom corredor. yuji pensou em emiko trocando de música no aparelho de som. velho inutil. o detetive subiu o vidro e arrumou seu cabelo. apertou os olhos lendo os letreiros da cidade.

- me larga em qualquer lugar. aquela esquina.

o cigarro de yuji sujou o cinzeiro da viatura. virou o volante com as duas mãos. akira abriu a porta sutil, saindo da viatura com leveza, impressionando yuji. uma reverência do jovem e o som da porta fechando abandonam akira na calçada em frente ao bar. velho inutil. o ringtone do celular reclamou novamente. emiko e o jantar frio. akira virou-se para a rua e a atravessou sem olhar para o tráfego, quase correndo.

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