O doce embalo da nicotina
A vida é muito complicada, é o que pensava o homem de uniforme vermelho. Na espera pela troca de turnos da loja de conveniências onde trabalhava, ele ansiava fumar. Sair da loja à noite era a única parte boa de seu trabalho. A noite fria na rua, o ar penetrando pelas brechas do agasalho e varrendo a fumaça quente do cigarro para longe. Nesses momentos quase compensava viver, ele sentia.
O mais complexo da vida são as pequenas coisas que exigem nossa atenção: as etiquetas de rastreamento, os protocolos do caixa, os jogos pessoais entre os funcionários... Ele não gostava dessas coisas: eram complicadas demais para ele.Para simplificar, o homem de uniforme vermelho roubava a cada quinze dias, às quinta-feiras, uma caixa de cigarros fortes, para fumar durante a noite. Tinha insônia e a fumaça o divertia em seu vôo visível pelas ruas vazias e soturnas.
No caminhar da volta, nada exigia sua atenção. Ele podia seguir em frente e se perder, que tanto fazia. A pequenez de sua cidade, como a de todas as cidades a noite, acolhia-o na certeza simples da fumaça e do caminho. Talvez não fosse nem uma questão da cidade em si, talvez o que o animava nessas voltas para casa fosse a certeza de se consumir, de gastar a vida que ansiava dentro de si mesmo, da maneira mais destrutiva possível, a mais egoísta e inútil. Fumar cigarros solitário na noite é o mais próximo que o homem de vermelho chega do niilismo.
O fogo que queima a ponta de seu cigarro não deixa margens à dúvida, pois deixa em brasa viva a verdade do tempo. O homem sofria, às vezes, pelo patético que era ter de roubar um símbolo, um auto-sacrifício. Não lhe era permitido se consumir à vontade, ser um hedonista. Tantas vezes ouvira sobre o imperativo da saúde, o último bem que os deuses podem nos tirar... Mentiras! Mas ele até gostava de mentiras, pois, ainda que parecessem complexas e intrincadas, elas continham em si um perfume falso, uma essência impotente e simples, como o fim de um cigarro.
O mais complexo da vida são as pequenas coisas que exigem nossa atenção: as etiquetas de rastreamento, os protocolos do caixa, os jogos pessoais entre os funcionários... Ele não gostava dessas coisas: eram complicadas demais para ele.Para simplificar, o homem de uniforme vermelho roubava a cada quinze dias, às quinta-feiras, uma caixa de cigarros fortes, para fumar durante a noite. Tinha insônia e a fumaça o divertia em seu vôo visível pelas ruas vazias e soturnas.
No caminhar da volta, nada exigia sua atenção. Ele podia seguir em frente e se perder, que tanto fazia. A pequenez de sua cidade, como a de todas as cidades a noite, acolhia-o na certeza simples da fumaça e do caminho. Talvez não fosse nem uma questão da cidade em si, talvez o que o animava nessas voltas para casa fosse a certeza de se consumir, de gastar a vida que ansiava dentro de si mesmo, da maneira mais destrutiva possível, a mais egoísta e inútil. Fumar cigarros solitário na noite é o mais próximo que o homem de vermelho chega do niilismo.
O fogo que queima a ponta de seu cigarro não deixa margens à dúvida, pois deixa em brasa viva a verdade do tempo. O homem sofria, às vezes, pelo patético que era ter de roubar um símbolo, um auto-sacrifício. Não lhe era permitido se consumir à vontade, ser um hedonista. Tantas vezes ouvira sobre o imperativo da saúde, o último bem que os deuses podem nos tirar... Mentiras! Mas ele até gostava de mentiras, pois, ainda que parecessem complexas e intrincadas, elas continham em si um perfume falso, uma essência impotente e simples, como o fim de um cigarro.
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