28/01/2009

O grito

Começa na ponta dos dedos do pé
e sobe queimando tudo pelo caminho.
No estômago ganha forças
e liberta-se do homem pela boca.

Esse imenso grito intraduzível
que arde na ponta dos dedos da minha mão
faz a conformidade impossível
e me une com cada um dos meus irmãos.

Arranca de mim o medo cotidiano
e põe sob meu travesseiro uma promessa.

Seria delírio se não fosse tão humano,
esse grito que toda noite me desperta.
Mil vozes anônimas me acompanham.

Por todo o tempo e o espaço, bocas murmuram
esse mesmo rugido: estão chamando.
Reunidas pelo feitiço do desespero, conjuram.

O fogo de meus cabelos e as chamas de meus olhos
iluminam o palco onde ecoa o grito.
Um espelho me fita entre assustado e sóbrio.

O silêncio me acolhe: não estou sozinho.

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