Canção do abandono
Pobre mar, sem você para lhe dar ondas
que carreguem as espumas do tempo.
Ficou só, a reclamar em gritos longos
sua presença e seu pensamento.
Partiu, o que fazer? Ela não vai voltar,
nada faz voltar as areias do tempo.
Saudade é o que sobra, pobre mar,
por mais poderoso que você seja.
O adeus é irreversível, amigo mar,
e essa dor em nosso peito queima.
Sobram motivos, todos pertinentes,
mas não, ela não mais nos deseja.
Por ela, todos as ilhas, os continentes.
Por você, morreríamos ambos,
mas você não voltaria, simplesmente.
Passarão milênios, séculos e anos
sem que uma onda risque a imensidão:
é nosso luto, nosso último canto
por você, tão triste é nossa solidão.
Nada adianta, tudo acabou num suspiro.
O mar chorando pelo mundo em vão
e eu, no meu quarto, sinto frio
mesmo sendo verão. A chuva me lava
e, companheira, me guarda.
O que resta de você são versos e praias.
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