12/12/2010

Cordel três

A porta do bar quebrou
e ainda ninguém lembrou
de ir chamar o carpinteiro
pra vir aqui consertar
e ela assim não vai fechar:
vai caber o mundo inteiro.

O que não é um problema,
está bem mais pra um dilema,
nem ético nem moral:
O mundo inteiro no bar?
Quem então que vai buscar
mais bebida pra geral?

Vamos tirar na sorte, então,
sério, sem contestação,
que noutro dia deu briga
e ninguém quer ver a lei
vir aqui bancar de rei:
ia estragar nosso dia!

Vamos fazer um estoque
para um fim muito do nobre:
Juca, deixa a porta assim,
vai e chama o mundo inteiro,
vai que dá algum dinheiro,
e me passa o tamborim!

08/12/2010

Cordel dois

Pulam os sinos da terra,
se esconde o galo na serra,
pois lá vem o amor de alguém.
A terra pega e se alegra
que se acabou a espera
pois já vem o amor de alguém.

O rio percebe e derrama
um poema pra quem ama,
pois o rio sorri também.
E nenhum silêncio chama,
e o sonho foge da cama
pra abraçar o amor de alguém.

O relógio fica esquecido
e o tempo passa esquisito
mesmo sem poupar ninguém.
O leão dá seu balido
pra chamar tudo que é vivo
pra ver o amor de alguém.

E vai chegando e chegou,
que o caminho se acabou
pra ver esse amor também.
Tô aqui porque alguém chamou,
e o mar de solidão secou,
e tá aqui o amor de alguém.

06/12/2010

Cordel um

A fazer cordel, eu digo
e, pra mim mesmo, prometo.
É um verso pra lembrar
e outro pra esquecer, meu nêgo.
Riso se bebe de dia,
e choro é copo seco.

Sorrir da vida é remédio,
remédio velho, do bom.
Tem gente que não escuta,
mas quem quer ouve meu som.
Meu violão tá sem corda,
mas ainda samba no tom.

O cafezal tá aqui, cheio,
esperando o lavrador.
Vamos tomar um café
para sorrir do que for,
seja futebol, mulher,
grana, saudade ou amor!

Tamos todos juntos nessa,
batendo, tomando, indo.
Cantando músicas velhas,
pela estrada eu vou seguindo.
E como tão vocês por aí?
Por aqui, tá tudo lindo!

04/12/2010

Um soneto

Vou, agora, lhe pegar pela mão
e vamos juntos dar nome às estrelas,
bebendo vinho no infinito vão
entre as minhas e as suas sobrancelhas.

Alguns dias foram, outros serão,
pois, sem depender de quaisquer certezas,
existem tardes de sim e de não...
Tudo, quando menos se espera, chega.

Faço-lhe um convite que não tem tempo
nem muito menos dever de resposta.
Nele, está escrito um pensamento.

É um desejo, sem falta nem sobra,
de ir comprar um vinho mais ou menos,
roubar um foguete e irmos embora.

03/12/2010

Um cachorro é pouco (...)

Um cachorro é pouco,
isso aqui tá é gato!
O vento está forte e frio,
mas o mar não está congelado.

Vinho tinto é pouco,
isso aqui tá é pinga!
Soam passos no corredor
e, certeza, são de gente amiga.

Meio café é pouco,
isso aqui tá é duplo!
O sol da manhã vai chegando
cada dia mais cedo, pulo a pulo.

Cebola é  pouco,
isso aqui tá é alho!
Mas, parece que, devagar,
os gostos estão menos amargos.

Chuveiro é pouco,
isso aqui tá é lago!
Sem chiar, o coração bate
num ritmo mais forrozeado.

Complicado é pouco,
isso aqui tá é tenso!
No entanto, essa coisa gira
um pouco mais a cada momento.